Uma caixinha, uma chave, uma faca, um coração. Cirurgicamente, cuidadosamente, a pele à esquerda da lâmina afasta-se daquela à qual adjacia. Ainda quente, o sangue marca; escorrega, deixa sua mancha, esfria-se, faz quem o vê sentir a dor. Paulatinamente, meticulosamente, camada a camada.
Aquele coração, antes preso à espessa manta de pele, agora tem mais espaço para bater. Sente o ar tocante, que pouco pressiona. Mas aquece e esfria sempre; não é mais confortado por aquela que o protegia.
Cada acesso, cada vaso, veia, artéria interrompidos. Agora o coração estava livre de tudo o que o prendia. Estava livre, só, sem qualquer preocupação, sem qualquer função. Percebeu qeue não queria ser livre.
Passo a passo, somente o coração a bater e a areia do chão a farfalhar a cada passada. Silêncio, o coração. A chave destrancando a pequena caixa. Toma o coração o pequeno espaço aberto na caixa, a qual se tranca pela ultima vez, deixando um peito vazio e um coração sem sangue.